Os resultados detalhados do estudo “Avaliação das emissões reais dos veículos em São Paulo”, conduzido pela iniciativa The Real Urban Emissions (TRUE) – desenvolvida pelo Conselho Internacional de Transporte Limpo e a FIA Foundation – em parceria com a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), foram apresentados esta semana (3/12) na capital e reforçam a urgência de ações voltadas à redução de emissões dos veículos em uso, especialmente os mais antigos e os de uso intensivo, como táxis e aplicativos.
O levantamento, que analisou mais de 323 mil medições por sensoriamento remoto em condições reais de tráfego, mostra que veículos antigos são os maiores responsáveis pela poluição em condições reais, ainda que representassem apenas 5,5% da amostra de automóveis de passageiros.
De acordo com Relatório de Emissões no Estado de São Paulo apresentado pela CETESB, a frota de automóveis, comerciais leves e ônibus está envelhecendo – em 2024, a idade média da frota, incluindo caminhões e motocicletas, era de 11 anos. O impacto, na prática, acontece porque veículos antigos foram projetados para atender a limites de emissões inferiores. Com o avanço tecnológico e metas de emissão menores esses veículos ficaram defasados tecnologicamente. Além disso, a deterioração que acontece ao longo dos anos, somada à falta de manutenção, leva ao aumento das emissões.
Outro destaque do evento foi o dado relativo aos veículos de uso intensivo: modelos operados por aplicativos e táxis podem emitir até quatro vezes mais que carros particulares equivalentes, consequência também do uso intenso e manutenção insuficiente. As recomendações do estudo da TRUE indicam que os veículos de uso intensivo devem ser a frota alvo de programas de incentivo a eletrificação, dado que sofrem maior deterioração em condições reais de uso.
O estudo identificou que, embora a implementação do PROCONVE tenha levado a uma redução nas emissões veiculares e promovido tecnologias mais limpas para veículos ao estabelecer limites de emissão, as concentrações médias anuais de dióxido de nitrogênio (NO2) e partículas finas na Região Metropolitana de São Paulo frequentemente excedem as diretrizes da Organização Mundial da Saúde estabelecidas em 2021.
“A CETESB acompanha as emissões veiculares desde a década de 1970 e esse histórico foi fundamental para o desenvolvimento do PROCONVE, que permitiu uma redução expressiva das emissões em veículos novos. Mas ainda há desafios importantes, especialmente nos poluentes que seguem pressionando a qualidade do ar nas grandes cidades. O estudo TRUE é muito importante, já que traz uma medição inovadora que permite entender qual a emissão efetiva dos veículos em uso, diferente das medições dos veículos em teste. Isso pode contribuir para o setor público e para a sociedade tomarem medidas para a redução da poluição e orientar nossos passos em direção a uma melhor qualidade de vida”, explica Maria Helena Martins, Diretora de Qualidade Ambiental da CETESB.
Para o ICCT, os resultados reforçam a necessidade de fortalecer políticas baseadas em evidências. “A motivação deste estudo vem de uma preocupação crescente: em muitas cidades do mundo, as emissões reais dos veículos continuam muito acima dos limites observados em laboratório. São Paulo agora se junta a um grupo de mais de 20 cidades que utilizam essa abordagem para orientar políticas mais eficazes. O que apresentamos não é só um diagnóstico, mas uma ferramenta poderosa para que tomadores de decisão possam reduzir emissões, priorizar ações e melhorar a qualidade do ar de forma estruturada e baseada em evidências,” disse Marcel Martin, diretor do ICCT Brasil.
O evento também contou com a participação da Secretaria Municipal de Mudanças Climáticas, que destacou o impacto da poluição veicular sobre a saúde e as metas climáticas da cidade. “O trânsito é hoje o principal responsável pelas emissões que prejudicam a saúde do paulistano, que pode viver até quatro anos a menos por causa da poluição. Temos avançado em eletrificação e incentivo ao transporte coletivo, mas só o trabalho conjunto entre governos, sociedade e instituições como ICCT e TRUE permitirá ações concretas para melhorar a qualidade do ar e da vida na cidade”, afirmou o secretário José Renato Nalini.
Sobre o estudo
O levantamento utilizou tecnologia de sensoriamento remoto, por meio de um equipamento horizontal de medição óptica que detecta emissões enquanto os veículos passam em velocidade normal. A equipe optou pelo equipamento horizontal por razões operacionais e de segurança, já que ele permite instalação móvel em vários pontos da cidade.
Foram instalados dois sensores simultaneamente em nove locais, escolhidos estrategicamente em vias de grande fluxo e tráfego diversificado, principalmente no entorno das marginais, para evitar a repetição dos mesmos veículos e garantir uma amostra representativa. No total, o sistema registrou cerca de 150 mil placas únicas, permitindo identificar características da frota e associar emissões a cada categoria de veículo.
A operação exigiu cuidados adicionais, como avaliação de condições meteorológicas, segurança dos operadores e compatibilidade com o perfil real de circulação da cidade. O processo também dependeu da integração com bases de dados do Detran e dos municípios, necessária para correlacionar medições aos registros veiculares.
A CETESB reforçou que, apesar da complexidade logística, o método trouxe um retrato inédito das emissões em uso real em São Paulo. A agência ainda realizará análises complementares para aprofundar a interpretação dos resultados e orientar medidas voltadas à redução das emissões veiculares no estado.
Principais recomendações destacadas por especialistas do estudo:
- Programa regional ou nacional de inspeção veicular que permita identificar veículos com falhas no seu sistema de controle de emissões.
- Fortalecimento de políticas de substituição e eletrificação das frotas mais poluentes.
- Adoção de tecnologias de medição em uso real, como sensoriamento remoto.
- Avanço regulatório do PROCONVE e medidas específicas para veículos mais antigos e mais poluidores.
O relatório completo integra a série global de estudos TRUE e seus dados serão base para que ICCT e CETESB possam dar suporte à formulação de políticas públicas para qualidade do ar e clima.
Crédito Imagem: ICCT