Falta de mão de obra técnica ameaça execução de grandes projetos no Brasil, alerta especialista

A escassez de profissionais técnicos, especialmente nos setores de óleo e gás e mineração, vem se tornando um dos principais gargalos para o desenvolvimento industrial do país. Embora não seja um problema novo, o descompasso entre formação e demanda do mercado tem se agravado nos últimos anos, segundo Gisele Damato, diretora de Gente da Infotec Brasil. “Temos a defasagem entre formação e demanda, já que a velocidade das transformações tecnológicas supera a atualização dos cursos técnicos e das faculdades”, explica. Ela também aponta a alta rotatividade e a dificuldade em atrair talentos para trabalhos de campo como fatores que tornam o cenário ainda mais desafiador.

Gisele Damato,
Diretora de Gente da Infotec Brasil

De acordo com o Mapa do Trabalho Industrial, o Brasil precisará qualificar 14 milhões de trabalhadores até 2027. Para Gisele, o número é expressivo, mas não suficiente para resolver o problema. “Muitos cursos entregam competências gerais, enquanto as vagas críticas pedem experiência prática, certificações específicas e familiaridade com protocolos de segurança”, destaca. Segundo ela, o gargalo também é logístico: formar milhões de profissionais exige infraestrutura adequada, instrutores qualificados e currículos alinhados às demandas reais do mercado.

A executiva acredita que a solução passa pela colaboração entre empresas, instituições de ensino e governo. “As empresas precisam mapear as competências críticas e participar do co-desenvolvimento dos currículos, para que as escolas incorporem módulos práticos, laboratórios e projetos integradores”, afirma. Gisele também ressalta a importância de transformar os estágios em oportunidades reais de aprendizado e de investir na formação dos instrutores. “Quando a empresa apoia o treinamento dos professores ou doa equipamentos para laboratórios, o ganho é enorme”, acrescenta.

Outro ponto crucial é o desenvolvimento de competências comportamentais. “Responsabilidade, disciplina, comunicação sob pressão, trabalho em equipe e rigor com protocolos de segurança são diferenciais indispensáveis”, afirma Gisele. Em setores de alta complexidade, comportamentos inadequados podem comprometer a eficiência e até colocar vidas em risco. “Mais do que saber fazer, precisamos de profissionais que atuem com consistência, responsabilidade e colaboração.”

Na Infotec, a qualificação é tratada como parte estratégica da gestão de pessoas. A empresa mantém a “Academia Infotec”, plataforma que reúne mais de 100 conteúdos técnicos e comportamentais, alinhados às trilhas de desenvolvimento de cada equipe. “Transformamos a experiência de aprendizado em algo memorável e impactante. Acreditamos que colaboradores bem integrados e valorizados são a chave para o sucesso de qualquer organização”, enfatiza.

Com a chegada da Nova Indústria Brasil (NIB) e seus investimentos bilionários, a executiva vê uma janela de oportunidade para o país — mas alerta para o risco da falta de prontidão do capital humano. “Há recursos financeiros chegando, mas sem um esforço coordenado para acelerar a capacitação prática e as certificações profissionais, corremos o risco de ter projetos atrasados por falta de mão de obra qualificada”, adverte.

Para reverter esse cenário, Gisele defende medidas imediatas e integradas. “Precisamos valorizar e expandir o papel das escolas técnicas, investir em cursos práticos intensivos, criar incentivos para empresas treinarem seus fornecedores e ampliar programas de certificação acelerada”, sugere. Ela também propõe incentivos fiscais para empresas que mantenham estagiários em programas estruturados e políticas de mobilidade que facilitem a relocação de profissionais para regiões com alta demanda.

Por fim, Gisele chama atenção para a necessidade de resgatar o prestígio das carreiras técnicas entre os jovens. “É fundamental mostrar que essas profissões oferecem empregabilidade real e caminhos de evolução. O técnico é peça estratégica, com impacto direto na segurança e no desenvolvimento do país”, conclui.

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