A indústria brasileira de mobilidade, que engloba ônibus, implementos rodoviários e motocicletas, atravessa um momento de contrastes, marcado por avanços significativos em diversos segmentos, mas também por desafios estruturais que afetam competitividade, renovação de frota e previsibilidade de investimentos. As análises e os números apresentados durante o evento promovido pelo SIMEFRE na última quarta (26), revelam um cenário que combina recuperação gradual, pressão por modernização tecnológica e busca por isonomia nas condições de mercado.
No setor de ônibus, o mercado deve encerrar 2025 com crescimento de cerca de 3% em relação ao ano anterior, impulsionado por investimentos em infraestrutura, recursos do PAC 3 e pelo programa Caminho da Escola. Até outubro, foram produzidas 23.259 unidades, em comparação ao mesmo período de 2024, quando foram produzidas 22.817 unidades. Apesar do avanço, o diretor do SIMEFRE, Ruben Bisi, destaca que a frota envelheceu de forma significativa após a pandemia, o que reforça a necessidade urgente de renovação. Para ele, retirar de circulação cerca de 75 mil veículos com mais de 20 anos seria a medida mais eficaz para acelerar a descarbonização do transporte. A eletrificação também ganha força, com aumento de 65% na produção de modelos elétricos até outubro de 2025, embora a presença de produtos chineses subsidiados gere preocupação quanto à concorrência desigual.
No segmento de implementos rodoviários, o desempenho dividido entre as linhas Leve e Pesada tem orientado as discussões para 2026. Segundo Alcides Braga, vice-presidente do SIMEFRE, o setor Pesado acumula queda de quase 20% no ano, enquanto o Leve registra crescimento de 11,94%. Entre janeiro e outubro, foram comercializadas 125.341 unidades, retração de 6% em relação a 2024, com destaque para o Baú Carga Geral como único item da linha Pesada em alta. Por outro lado, as exportações cresceram 50,74%, impulsionadas pelo programa MoveBRazil, que fortalece a presença internacional das fabricantes brasileiras. A expectativa é recuperar parte das perdas no segmento Pesado e manter o aquecimento no Leve ao longo de 2026.
Já o mercado de motocicletas deve permanecer aquecido a exemplo dos últimos cinco anos, segundo Hilário Kobayashi, diretor do SIMEFRE. A projeção de produção para 2025 é de 1.950.000 unidades, representando um crescimento de 11,5% em relação a 2024. Embora expressivo, o resultado ainda está abaixo do recorde de 2011, quando foram produzidas 2,1 milhões de unidades. A Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) projeta que a produção volte a superar 2 milhões de unidades em 2026, o que demonstra a resiliência do setor.
O mercado de baixa cilindrada segue como o mais representativo, respondendo por mais de 78% da produção nacional. De janeiro a outubro, o segmento registrou crescimento de 14% em comparação ao mesmo período de 2024, impulsionado pela busca por mobilidade ágil, menor custo de aquisição e pela motocicleta como ferramenta de trabalho. Já o segmento de alta cilindrada, embora represente apenas 2,6% da produção, mantém um público fiel que busca desempenho, exclusividade e tecnologia.
A inovação impulsionada pela Inteligência Artificial também já faz parte da realidade do setor, otimizando processos produtivos, de desenvolvimento e gestão. A geração de empregos segue em curva ascendente: em 2025, são 20.500 empregos diretos, com 1.800 novos postos criados até setembro.
As exportações também apresentam desempenho positivo. No acumulado de 2025, foram embarcadas 35.058 unidades, crescimento de 30,7% em relação ao mesmo período de 2024, reforçando a competitividade internacional das fabricantes brasileiras.
A segurança permanece como tema central para a indústria. Kobayashi enfatiza a necessidade de políticas públicas e soluções tecnológicas para reduzir riscos e proteger os consumidores. A motocicleta, segundo ele, é protagonista na mobilidade brasileira não apenas pela eficiência, mas também por sua relevância na inclusão socioeconômica, ampliando acesso a trabalho e renda.
Apesar dos entraves, que incluem alta de juros, custos de insumos, instabilidade econômica e defasagens tributárias, a indústria brasileira de mobilidade mostra capacidade de adaptação e potencial de crescimento. A convergência entre renovação de frota, eletromobilidade, estímulos às exportações e modernização tecnológica desenha um horizonte promissor. Para 2026, o setor como um todo espera consolidar avanços, recuperar segmentos pressionados e ampliar o papel da mobilidade sustentável no desenvolvimento econômico e social do país.
Crédito Imagem: Everton Amaro