Profissão automotiva enfrenta pressão entre frota envelhecida e veículos mais tecnológicos

A rotina dos profissionais de manutenção automotiva no Brasil hoje é marcada por uma combinação incomum: frota envelhecida, avanço acelerado da eletrônica embarcada e dificuldade crescente para encontrar mão de obra preparada. Dados do Sindipeças mostram que a frota circulante de autoveículos ultrapassou 47 milhões de unidades em 2023, chegando a mais de 60 milhões quando se incluem motocicletas, com idade média próxima de 11 anos. A pesquisa nacional da Oficina Brasil indica que a falta de profissionais qualificados já é o maior desafio de um terço das oficinas mecânicas entrevistadas.

Nesse contexto atua o técnico automotivo Marco Antônio Correia Faleiro, especializado em diagnóstico eletrônico e reparo avançado de sistemas veiculares. Formado pelo Senai em manutenção automotiva, com capacitação em sistemas como freios, suspensão, direção, transmissão e injeção eletrônica, ele trabalha desde 2007 em oficinas e, desde 2014, como autônomo focado em diagnóstico, módulos, ABS, ar-condicionado e airbag. Para ele, a mudança no tipo de demanda é evidente. “Antes o trabalho era mais mecânico. Hoje, grande parte do tempo é dedicada a interpretar sinais, analisar dados no osciloscópio, entender a comunicação entre módulos e rastrear falhas intermitentes”, afirma.

O mercado de reposição e reparação continua aquecido. Estimativas do setor mostram que o pós-venda automotivo movimentou mais de 250 bilhões de reais em 2024. Projeções de sindicatos regionais apontam que o país tem entre 70 mil e 118 mil oficinas independentes, responsáveis por absorver a maior parte da demanda vinda de veículos fora da garantia. Em muitas delas, a agenda permanece cheia, mas falta gente para executar os serviços.

O envelhecimento da frota amplia a complexidade da manutenção. Estudos recentes indicam que a idade média dos veículos no Brasil ultrapassa 10 anos, com aumento da participação de automóveis acima de 15 anos de uso. Isso exige dos reparadores capacidade de lidar tanto com sistemas simples quanto com veículos modernos equipados com módulos eletrônicos, redes internas de comunicação e sensores distribuídos. Marco relata que essa variedade tecnológica impõe desafios diários. “É comum atender um carro mais antigo pela manhã e, logo depois, um modelo atual com falha em airbag ou controle de estabilidade. O profissional precisa dominar fundamentos e saber interpretar medições com precisão”, diz.

A formação técnica tenta acompanhar essa mudança. O Senai e outras instituições ampliaram cursos de diagnóstico eletrônico, sistemas híbridos e fundamentos de eletromobilidade. Mesmo assim, empresários da reparação afirmam que a curva de aprendizagem ainda é lenta em relação à velocidade das inovações. Muitos jovens ingressam no setor com alguma familiaridade digital, porém sem base sólida em eletricidade automotiva, leitura de diagramas e procedimentos de segurança.

Essa nova realidade também eleva os custos operacionais. Scanners automotivos, plataformas de diagnóstico, licenças de software e equipamentos de medição passaram a representar investimentos frequentes. Em oficinas pequenas ou entre profissionais autônomos, o planejamento financeiro tornou-se parte essencial da rotina. Para Marco Antônio, esse é um ponto determinante. “Não é mais possível trabalhar apenas com ferramentas básicas. Se o técnico não investe em scanner atualizado, osciloscópio e acesso a informação técnica, perde produtividade e fica limitado no tipo de reparo que consegue executar”, explica.

Especialistas sugerem alguns movimentos prioritários para quem já atua no setor ou pretende ingressar. O primeiro é manter uma rotina contínua de formação, com foco em eletricidade automotiva, uso avançado de osciloscópio, análise de falhas em módulos e boas práticas em sistemas de segurança. O segundo é profissionalizar a gestão do negócio, monitorando tempo médio de serviço, retorno sobre investimento em ferramentas e sazonalidade da demanda. O terceiro é fortalecer redes de colaboração, como grupos técnicos e fóruns de troca de experiência, que aceleram o aprendizado prático e ajudam a suprir a falta de profissionais experientes.

Com uma frota envelhecida, avanços tecnológicos constantes e escassez de mão de obra qualificada em várias regiões, o futuro da manutenção automotiva tende a exigir um profissional mais analítico, atualizado e capaz de integrar conhecimento mecânico e eletrônico. Para Marco Antônio Correia Faleiro, o cenário é desafiador, mas também representa oportunidade. “A tecnologia elevou o nível da profissão. Quem se prepara agora encontra espaço real para crescer”, conclui.

 

Crédito Imagem: Divulgação

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